Alô flores! Penso que pelo título já devem ter percebido porque tanta ausência do blog. É verdade, não mandamos na nossa vida por mais que digam que sim. Como viram início o mês do meu aniversário com a perda de uma pessoa muito muito especial.

Não sei se já perderam alguém que fosse muito especial para vocês mas eu até esta semana não sabia o que era deixar de ter de corpo e alma alguém que eu gostasse muito. E sim, é verdade só perdemos em corpo porque em alma está sempre ao nosso lado, mas custa e custa muito a perda.

Não foi fácil como tudo aconteceu, estava um dia lindo de sol e de um momento para o outro só dei por mim a ajudar nos cuidados pré-hospitalares e aguardar uma ambulância. O tempo aí parecem horas e horas. Foi tudo tão repentino do "hoje estás bem e amanhã já não és ninguém".

Perdi a minha tia. Uma das mulheres que me criou e ajudou a crescer e que contribuiu, de certa forma, para eu ser o que sou hoje.

Escrevo isto ainda de fresco porque cá dentro há um turbilhão de emoções e não quero acabar por ficar com uma perturbação de afeto e criar embotamentos afetivos, não mesmo. Escrever faz tão bem e não se paga. 

A sexta-feira foi o último adeus que pude dar, o último beijo e a última carícia no seu rosto. Foi o dia em que lhe li a carta que lhe escrevi para levar com ela. Senti que ela ia gostar de levar com ela e ler um dia mais tarde lá no seu cantinho. 

Se custou ler o que escrevi? Sim, custou e muito mas a dor de não lhe dizer ia sufocar-me eternamente. Por isso, nunca mas nunca deixem nada por dizer a quem vocês amam. 

É a minha primeira perda de muitas tantas que a vida me vai bofetear mas nunca esperava que fosse ela, nunca imaginei ser assim tão cedo a partida. 

O meu carinho por ela é e era gigante; e digo-vos se alguma vez tiverem um familiar que esteja em coma não fiquem ao lado e não falem. Aliás, falem e toquem. Toquem-lhe, vejam a frequência cardíaca deles a oscilar com o vosso toque e a vossa voz. Podem achar que não mas eles sentem sempre de outra forma, e eu estou bem de coração, de coração cheio porque senti tudo isso, ajudei-a no que pude e acima de tudo sei que foi feliz com tudo o que vivemos juntas. 

A vida é uma passagem e nós deixamos as nossas marcas. E eu sei que a minha tia foi uma grande mulher, a preocupação dela era primeiro os problemas dos que mais gostava e só depois os dela. E eu também sou um bocadinho assim, quem me conhece sabe. Podem achar que é mau mas só nós sabemos que cada fim do dia adormecemos com o coração eternamente cheio. 

Vou partilhar com vocês o que escrevi para ela e partilho porque sei que alguém desse lado pode estar na mesma situação que eu ou simplesmente vir a passar e portanto quero ajudar-vos, quero partilhar tudo com vocês e ajudar-vos em cada batalha. Foi nesse sentido que o Blog Miúda das Flores surgiu: Partilha, Partilhar tudo o que acho que pode ser uma mais valia para vocês.

A carta da despedida:

"Ainda que todos saibamos que nascemos, crescemos, morremos e que esta é a sequência natural da vida nunca estamos preparados para a partida de alguém que amamos muito. 

Por isso Querida Tia,

Obrigada.

Obrigada por seres uma tia-mãe para mim;

Obrigada por todas as vezes que me levaste à escola primária;

Obrigada por me ajudares nas contas de multiplicar quando o meu avô não podia;

Obrigada por me levares à cidade, quando era pequena, só para ir passear contigo;

Obrigada por me ligares sempre que sabias que ia ter frequências na universidade ou que andava mais desaparecida;

Obrigada por cada "abre olhos" que me deste, por cada conselho e pelas nossas conversas;

Obrigada por cada lanche de domingo sempre que podíamos;

Obrigada por tudo o que fizeste por mim, por toda a tua família, pelos meus avós paternos e por todos os teus amigos/as;

Obrigada por cada fartura ou fatia de pizza que comemos juntas;

Obrigada por seres uma tia-mãe tão boa como fosse para todos;

Obrigada por teres tido sempre tempo para todos os que mais gostavas;

Obrigada por te estares a tornar o nosso girassol em dias de chuva e de sol e por seres a minha borboleta, que nunca vai deixar o meu ombro.

Para ti, o melhor do mundo!

Um beijo eterno. Foi um prazer viver contigo os meus quase 22 anos de vida.

Pelos meus avós paternos, todos os teus sobrinhos, irmãs, família e amigas, um grande obrigada pelo que foste nas nossas vidas.

Guardo-te no meu coração e não te preocupes que ninguém vai esquecer a tua voz caraterística nem o teu rosto.

Porque aqueles que amamos nunca morrem da nossa memória, apenas partem antes de nós.

De todos os que gostam de ti,

Descansa em paz, Tia. ♥ "

Na minha opinião o Luto deve ser vivido. Não vale a pena andar a sedar as pessoas porque devemos chorar tudo o que temos a chorar, lembrar o que temos para lembrar naquele momento. O adiar das emoções só faz mal e quando se cai na real a dor é ainda maior porque não sentimos que libertámos o que tínhamos para libertar. 

Até breve flores!

Um beijinho, 

Miúda das Flores.